terça-feira, 7 de novembro de 2017

O abraço do undergroud

Pra ler ouvindo Tom Waits

Underground, como o próprio nome diz, vem de algo abaixo da terra, fervente, algo que puxa pra baixo. O underground nunca morre, sobrevive de geração em geração, pode até obedecer algumas regras que se adequam aos novos tempos, mas lembrando Itamar Assumpsão na música "presadíssimos ouvintes": O novo não me choca mais / nada de novo sob o sol / o que existe é o mesmo ovo de sempre / chocando o mesmo ovo.

É difícil saber a origem do underground, mas não se pode negar as influencias do folk, das batucadas africanas e das várias manifestações culturais baseadas no ritual "artesanal" de se fazer música, não se engane que o punk rock criou o underground, muito menos que está diretamente ligado a anarquia, o que temos no caso do punk rock foi a conquista dos grande públicos, em sua maioria jovens. A frase é "faça você mesmo".

Não vamos confundir alhos com bugalhos, anarquia é muito mais do que derrubar o estado, e faça você mesmo é muito menos que anarquia, o desejo de liberdade é comum a qualquer visão política, mesmo as mais conservadoras.
É inegável a natureza artesanal do movimento, muito ligado à questões políticas que vão muito além da partidária, mas a do dia-a-dia.

Convivendo com várias pessoas participantes de várias cenas, eu noto que um grande símbolo disso tudo são os abraços.

Todo participante de rave sabe a importância de se hidratar, todo punk também, e que na roda se alguém cair tem que puxar de volta pra não pisotear o amiguinho, todo agrônomo sabe que sem a união das famílias no campo, a cidade fica sem alimentos para o bom consumo, e por aí vai.

A falta de uma mídia realmente democratizada, ainda mais em tempos de internet, é um grande sinal da falta de união que vivemos. É muito bonito compartilhar uma foto de alguém oferecendo um abraço grátis com a legenda "não existe almoço grátis", ou ainda um jogo de palavras com o nome de Frida Khalo. Nada contra, porém isso reflete uma extrema falha de comunicação causada pelo mau investimento em educação, não só do estado, mas também da inércia geral que tomou conta do mundo inteiro, um grande medo pelo novo.

Um bom abraço underground afaga o corpo inteiro, demonstra o quão a pessoa se entrega na troca de calor que se proporciona, o mesmo calor de uma pista de dança, do sol do sertão nordestino, de uma roda punk, até de uma batalha. O calor excita.

Longe de mim condenar o mainstream, que tem caminhos diferentes, mas fins parecidos, só obedecem outras regras e jurisdições, inclusive acho bastante saudável a questão da moda sempre se reinventar, o dialogo entre as duas cenas é muito rico, e acho que os frutos disso são incríveis, desde Madonna até David Lynch, passando por Chico Science, Tom Waits e outras milhares de referencias.

Podem testar, abracem um filho de qualquer underground, é delicioso.

Na foto, Monica Rodrigues e Raíza Cardoso no espetáculo "War Nam Nihadam ou qual o nome do suco", espetáculo que fotografei que abriu minha mente para o diálogo entre cenas e gerações divergentes. O registro pode ser conferido no link: 

https://www.flickr.com/photos/diogocondee/albums/72157670754392761/with/27674146913/


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